17 de ago. de 2007

O dia seguinte

Trancou a porta. Nunca havia prestado atenção ao barulho que a fechadura fazia ao virar a chave. Naquele momento, sentia-se alguém muito distante de si mesma. Após um dia cansativo, estava preocupada com processos, audiências e clientes.

Caminhava lentamente ao encontro do elevador e a cada passo lembrava do dia ruim que tivera.

Quem era ela agora? Tentava se descobrir.

Os olhos já não brilhavam da mesma forma que costumavam brilhar quando ela tinha 15 anos. A pele se tornara pálida com o passar do tempo. Minuciosamente procurava, todos os dias, alguns fios de cabelos brancos. Olhando-se no espelho, tentava encontrar a moça graciosa que há muito tempo havia desaparecido. Como pôde se perder em tão pouco tempo?

Tirou a roupa e se sentiu mais leve. Teve a impressão que carregara todo o peso daquele dia nas peças que vestia.

Olhou a seu redor. Via-se sozinha. A água morna da banheira a atraia de maneira estranha. Precisava daquele banho. Precisava relaxar e se sentir humana novamente. Será que um banho conseguiria trazer de volta tudo que havia perdido?

Ela estava cansada dos rituais diários, das conversas ao telefone, das audiências intermináveis e da falta de sensações daquela vida que escolhera, assim como se cansou do antigo amor.

Queria ser renovada, e foi com tal esperança que mergulhou na banheira aquela noite.

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