1 de ago. de 2008

Provocação

Não me provoque. Provocar dói. Você me chama, pede atenção e fala sempre que esteve à minha procura, mesmo tendo atitudes totalmente adversativas. Eu não quero sentir saudade, não de você, não do que me fez sentir. Bem, até que não foi de todo mal, nossas conversas foram interessantes e, do mais que tenho a escolher, acredito que tenha sido o de melhor papo. Pode ser esse o motivo de eu ter cedido aos seus desencantos.

Não me teste. Eu sou capaz de boicotar meus desejos por capricho, só para não confirmar suas suspeitas. Sou orgulhosa o suficiente para negar as minhas vontades, os meus pecados. Eu sei que quer uma certeza: a de ter o controle em suas mãos. Você tem. Não precisa comprovar. E não peça isso. Vamos fazer de conta que eu faço aquilo que quero, certo? Vamos viver o meu faz-de-conta desta vez. Eu só preciso me sentir amada, mesmo que não seja.

Por favor, minta. Eu sei que você é bom nisso. Quando quer, consegue me fazer acreditar em você. É só dizer que gosta de mim, que não quer me perder. Eu não acho ruim ser feita de boba dessa forma, só não me ignore. Eu não suportaria. Uma mulher admite ser enganada, mas não ignorada.

Sabendo que me tem nas mãos, não as feche, por favor. Prefiro morrer afogada por beijos a morrer esmagada entre os dedos.

Já te disse pra não me provocar. Dói! Será que você está entendendo o que eu digo? Eu sei que gosta de me ver perdida, esperando sua mão se estender para que eu escolha meu caminho, mas você sequer sabe o que espero de você, e eu não sei o que esperar.

Você deduz que eu fique como uma criança olhando a vitrine de doces da padaria, enquanto aguarda o avô comprar seus pães do lanche da tarde. Ela quer que o avô diga para que escolha o doce que queira. E a voz do avô diz. Porém, a voz dele nunca vem na sua. Você age como o doce da vitrine: espera a hora de ser agarrado pela atendente até ser colocado nas mãos da criança. O seu maior prazer é se sentir entre os lábios da menina e perceber que também é o maior prazer dela naquele momento. Você quer ser saboreado e digerido, quer ser o doce enjoativo da vitrine da padaria, que a menina vai com seu avô para comprar pães. Você quer ser eternamente o doce que a menina olha. E ela realmente olha para a vitrine todos os dias.

Você está ali. Não demonstra sua inquietação. Não demonstra o quanto sente falta de estar entre os lábios dela. Não demonstra, ao menos, vontade de saltar às mãos da atendente. Acha que a menina vai te pedir, vai chamar por você, vai esperar ansiosa a voz do avô dizer para escolher o doce que quiser. E a voz do avô diz.

Mais uma vez eu tenho que te pedir para não me provocar. Eu já disse que dói. E dói demais. Sinto saudade de você. Sinto saudade das horinhas que passávamos juntos, falando sobre tudo ou, até mesmo, sobre nada. Era bom só de estar ali, ao seu lado, acreditando que poderia ser por mais tempo do que realmente foi.

E, por essas minhas palavras, você achou que eu estava te escolhendo novamente. Não era isso. Eu só queria aproveitar a sua presença. Só queria te conhecer. Saber sobre o que te faz feliz. É... simples assim. Eu queria saber o que coloca brilho nos seus olhos, sorriso nos seus lábios. Queria saber o que te faz querer segurar a mão de alguém, ou apoiá-la, ou até mesmo abraçar apertado, tipo abraço de urso.

Como o doce de padaria, você ficou ali esperando, uma vez mais, ser escolhido. Mas a menina não te escolheu. Ela não tem o hábito de repetir aqueles doces, principalmente quando causam enjôos. Ela decidiu experimentar novos sabores.

E você está ali, somente um doce na vitrine, enquanto a menina escolhe suas possibilidades. Pode ser que ela vá à padaria com o avô por você. É possível que ela te olhe e te deseje.

E se isso for realidade, você, objeto, é possuidor de um sujeito. O sujeito está em suas mãos. Você sabe que está e sorri por isso. Sorri por lembrar que um objeto manipula um sujeito como um boneco de cordas. É a primeira vez na história da gramática em que o sujeito dependente totalmente de um objeto, que existe sem verbo e, por isso, não há como saber se é direto ou indireto.

Um pedido. Uma história com um objeto sem classificação sintática, e um sujeito dominado por esse objeto. O uso de metáforas que ainda não conseguem transmitir o que eu sinto ao ser provocada por você. E quando eu falo em provocar, a palavra dor dispensaria todas as outras utilizadas.










"Still a little bit of your taste in my mouth
Still a little bit of you laced with my doubt
Still a little hard to say what´s going on
[...]
Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life, it taught me to die
So it´s not hard to fall
When you float like a cannonball."
(Damien Rice)
***************************************************************************************************
Queridos mimos meus, passarei, com o tempo, de blog em blog comentando e explicando esta minha ausência. Vocês são muito importantes para mim!
Beijos.

31 comentários:

Nally disse...

Saudades destes textos!

Beijo minha linda!
Se cuida e fica com Deus, beijão!
=D

Naraeana Costa disse...

Damien e suas letras... sempre perfeito.

Pitanga disse...

Esse texto é teu???

*** te add no Sr.Orkut!
Mil beijos,
Pitanga.

Ariana Coimbra disse...

Tava com saudades de passar por aqui!

Esse texto seu aconteceu msm ou é ficticio?

Beijo

Silêncio de Chumbo disse...

Texto bonito!!!
Triste, mas bonito...

Logo eu to voltando a escrever..... eu acho... =P

beijooo

Anônimo disse...

Ainda bem que a ausência acabou, estava sentindo falta dos seus textos ^^.

Me conte o porque do sumiço :O.

Anne Graziele disse...

Lindo o texto. Adoro o que vc escreve, parece que até lê meus pensamentos...
bjão e ainda bem que voltou!

Dayane Carmona Poeta disse...

Que lindo isso , acabo de me vê em algumas linhas *-* adoravél :)

:*

Thefy disse...

Me vi nas entrelinhas do seu texto, até parece que fui eu quem escrevi.rsrsrs
bjokas flor

Thefy disse...

Me vi nas entrelinhas do seu texto, até parece que fui eu quem escrevi.rsrsrs
bjokas flor

Clecia disse...

OI, Ná! Tudo bem contigo? Que post, hein? Verdadeiro desabafo!Fique bem! Bjos e boa semana!

Unknown disse...

já passei váriassss vezes por isso.
sem como é complicado, agoniante e ao mesmo tempo dificil de enfrentar e saír..
mas acho que esse post foi o primiro passo..


:*

Andréia disse...

Estamos aqui, a sua espera amiga!!!


Beijão!!!!!!!!!

Juliana disse...

pq será q suportamos ser engandas mas ignoradas jamais? e às vezes a gente até gosta das mentirinhas q ouve... eu hein
=)

Layz Costa disse...

Lindo o texto, demais.
Parabéns pelo blog, pelas palavras.
Tava com saudade daqui!
beijo
=*

Anônimo disse...

o Mais complicado no término de um relacionamento é justamente isso, ter que resistir a tentação de encontrar o ex e não beijar, abraçar. Lógico! qdo um relacionamento acaba amigavelmente...
Realmente dói muito. controlar a vontade de responder os e-mail's e telefonemas...

Mandy disse...

Adorei o texto, cheio de emoção, sentimento e dor...
Gostei: "Sabendo que me tem nas mãos, não as feche, por favor. Prefiro morrer afogada por beijos a morrer esmagada entre os dedos".

Não se ausente por muito tempo flor...

BjO.

Marcelo disse...

Gosto da forma com que brinca com as palavras aqui.
Provocante,rs.
Adoro o Sr.Damien.

Beijinhos

Thefy disse...

Flor, tem um golinho doce pra ti lá no meu blog...
Bjokas

Anônimo disse...

profundo e lindo hein?!
vc fez?
beijos!

TIAGO JULIO MARTINS disse...

É exatamente isso. Sem querer, acabei criando um tipo de compromisso estranho com o blog e com as pessoas. Escrever passou a ser mais que necessidade, transformou-se em cumplicidade. Isso ainda me assusta um pouco, essa exposição, mesmo que relativamente pequena, revela um lado grande de mim. De qualquer forma a vontade de ficar em silêncio é muito pequena perto do anseio de gritar.


''É a primeira vez na história da gramática em que o sujeito dependente totalmente de um objeto, que existe sem verbo e, por isso, não há como saber se é direto ou indireto. ''

Bravo! Conseguiu comprimir milhões de coisas num trecho de três linhas. Tua habilidade no trato das palavras e na hora de brincar com o sentido delas é admirável. A sinestesia e a poesia que isso provoca são lindas.
Tens talento, mas já sabes disso. ;)
Ah! As coisas todas passam, até os gostos.


PS: Eu realmente estou muito, muito lisonjeado com o espaço que me deste na Frase da Vez. Aquele texto é assumidamente meia-boca, mas é muito especial pra mim.
Não sei se devo agradecer, mas como eu tô com vontade então vou fazer de qualquer jeito: Muito obrigado. :)

Anônimo disse...

Ótima a metáfora do doce de padaria. Só que no meu caso, ele é o doce que procura ser o mais sem graça possível, justamente pra menina não pedi-lo ao avô. E é só esse que ela quer... O doce estragado, com o morango torto e mucho! A menina aqui só vai aprender a lição quando tiver uma dor de barriga!
Ah, xuxu, não precisa explicar nada não. Vc tem todo o direito de dar as suas escapadelas! Não te abandonaremos! ^^
Bjokas!

Joji disse...

Ah, eu nunca vou ser um doce desejado, vou ser sempre o doce amargo e estragado, que ninguém gosta nem de olhar.

Huum, claro que vou te perdoar :D
Você não tinha como advinhar que era meu aniversário, não? ;)

ueheuhuhe, beijos.

Mandy disse...

Eu tbm acho q eles são!!!

huahuahaua

^^

BjO.

Tathiana disse...

Hum, sábia decisão experimentar outros doces, principalmente se o outro te causou enjôo... rs.
Ai, e eu sei bem pq às vezes prefiro não lembrar q é bom conversar ou só estar perto...
Bjs.

O Profeta disse...

Ai quem me dera agitar o tempo
Atirar a mágoa à voragem da noite
Arrancar as raízes ao pensamento
Sentir a paz que uma lagoa acolhe


Boa férias


Mágico beijo

Anônimo disse...

imagino uma moça escrevendo numa folha colorida sentada no chão branco de um apartamento.

Honey baby disse...

Q lindo...*.*
Como ela escreve bem GENTE...
amei amei...
Eu A-D-O-R-O essa música, linda a tradução...a parte q me toca é essa : There's still a little bit of your taste in my mouth!!
*.*
simplismente oq eu estou passando ;/

bjOOO florrr

Cris_do_Brasil disse...

Se ele ignora-me e engana-me, é um tipinho que jamais me vê de volta.

Anônimo disse...

Eu tive refletindo com seu post e cheguei a conclusão

Adoro provocar, mas é tão ruim ser provocado...

Marcela disse...

Texto maravilhoso, me encontro em cada palavra, cada virgula, cada dor.
Simplesmente Perfeito!!!
Parabééns pelo texto!! Amei MESMO!!!


Beeeijos
;***