8 de jan. de 2008

Cecília

A angústia dela não era de pedra, era um misto de sonho e desesperança que não acreditava existir. Queria acreditar que alcançaria a sua liberdade. Não a liberdade comum, o direito de ir e vir ela já tinha há muito tempo. Precisava gritar, sem ser julgada louca. Colocar pra fora tudo aquilo que a estava sufocando e não sabia como se livrar. Havia conseguido se desvencilhar disso, achava que havia aprendido uma lição. Agora ela sabe que não aprendeu e que não tinha controle nenhum sobre o que estava sentindo. Não conhecia meios de sobreviver àquilo, não podia competir com o maldito acaso que insistia em bater à sua porta. Sua ousadia estava no fim.

Quando olhava no espelho, enxergava os olhos de uma pessoa que já estava cansada em demasia, como se houvesse vivido meio século. Ela queria escrever, mas seus escritos pareciam coisas imperfeitas, insensatas. Estava então se tornando características próprias dela? Já não suportava a sensação de não ter o tempo necessário para ler tudo que gostaria, ouvir tudo que precisaria e realizar tudo que sonhou. Mas, no fundo, também sabia que ia além, não ela, mas o mundo. Sabia que nada era igual ao que já viveu. Talvez só estivesse perdida, confusa e desejando chegar a um caminho sem percorrer a estrada necessária. Talvez quisesse alguém que a arrancasse daquele delírio com a dose de realidade que havia perdido.

Ela conhecia o segredo daquele olhar triste. Sabia que seus temores eram reais e que não haveria como destruí-los. Até queria acreditar que seria diferente desta vez, mas já tinha passado diversas vezes pela mesma situação e todas chegaram ao fim de forma parecida. Os diálogos de suas novelas nunca mudaram; o fim, muito menos. Apenas os personagens completavam uma metamorfose, uma transformação. Ela sempre dava um jeito de não deixá-los ser idênticos.

O que o telespectador não consegue entender é como a autora pôde esquecer as frases e os gestos tão repetitivos e, mesmo assim, querer acreditar que o fim poderia ser diferente. Que ela não iria passar pelo mesmo transtorno.

Na verdade, ela não queria modificar os finais. A adoração dela era o momento posterior, aonde seus sentimentos afloravam e ela conseguia dar asas à sua imaginação, mesmo que seu coração estivesse partido uma vez mais.

"Não aguento muito tempo um sentimento

porque passo a ter angústia

e meu pensamento fica ocupado com o sentimento

e eu me desvencilho dele de qualquer jeito

para ganhar de novo a minha liberdade de espírito.

Sou livre para sentir. Quero ser livre para raciocínar.

Aspiro a uma fusão de corpo e alma."

(Clarice Lispector)

5 comentários:

alexandre disse...

A angústica de todos nós parte da idéia de que temos medo de exteriorizar nossos gritos, sejam quais forem, por não querermos que os outros percebam que somos frágeis também. Tudo pelas aparências.

Adorei o texto :)

Vinicius disse...

aeee layout novo rs...
feliz 2008 outra vez !

Anônimo disse...

Alguém entendeu melhor a minha alma do que eu mesma e escreveu aqui.
Então, o lay q eu tava usando tirei de um template shop mesmo que está "out" no momento. Tô criando um pra mim na raça no Front Page! Apanhando de HTML, mas sou brasileira e não desisto nunca!
Bjokas!

Anônimo disse...

Ah, aliás, adooooro Clarice Lispector. Conhece um conto dela chamado "O Búfalo" ? É o meu favorito!
Bjokas!

Miss Blogosfera disse...

Vem ai Miss Blogosfera 2008 !!
o Concurso de Miss que irá escolher os blogueiros mais bonitos da blogosfera !